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As festas

 

Estamos na época das Festas. Este ano, o calendário litúrgico coloca-as mais cedo. Mesmo assim todos se preparam afanosamente para a celebração das maiores Festas destas ilhas, hoje denominadas de Região.

Não há ninguém que não fale nas festas e nos convites recebidos para as coroações e jantares da Semana do Espírito Santo. E foi sempre assim.

Desde remotas eras, quando para aqui vieram os povoadores enviados pelo Infante. Há que tempo que isso aconteceu! E as Festas têm continuado. Ou por tradição ou em cumprimento de promessas, elas aí estão todos os anos, nem que sejam anos de crise como aqueles que estamos a viver. O Senhor Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, faz milagres contínuos.

Não há data certa da chegada das Festas a estas ilhas.

No continente, elas surgiram com a criação das Misericórdias, e chegaram aos Açores no século dezasseis. O alvará de criação da Misericórdia das Lajes do Pico é datado de 14 de Novembro de 1592, e concede “ao provedor e irmãos da Misericórdia da Vila das Lajes da ilha do Pico todos os privilégios e liberdades de que gozam e usam o provedor e irmãos das confrarias das misericórdias da cidade de Angra e da ilha do Faial”.

A igreja da Misericórdia já existia no ano de 1645, pois Frei Diogo das Chagas, ao referir a ilha do Pico, no seu Espelho Cristalino, diz que nela existiam treze paróquias e quinze ermidas, uma casa da Misericórdia e o convento de frades franciscanos, “que na mesma vila se fundou em 1641”.

A igreja da Misericórdia, restaurada em 1720, aquando das erupções vulcânicas daquele ano, já estava em ruínas e incapaz de nela se exercer o culto em 1914, ano em que o local onde se encontrava foi posto em arrematação e adquirido por um particular.

Sobre a constituição da devoção ao Divino Espírito Santo, Lacerda Machado informa (1): “No ano de 1523 desenvolveu-se na ilha de S. Miguel uma desoladora peste que ocasionou 2.000 vítimas e se comunicou ao Faial no mês de Julho. O pânico foi geral em todas as ilhas e os povos aterrados recorreram a preces públicas, procissões e invocaram em especial o Espírito Santo, prometendo distribuir pelos pobres anualmente, pela festa do Pentecostes, as primícias de seus frutos, se escapassem do terrível flagelo, que se não comunicou ao Pico. – Instituíram-se irmandades em honra do Espírito Santo, celebrando em seu louvor todos solenes, com folias e bailes, ao uso do tempo.”

A ilha do Pico, na devoção ao Divino Espírito Santo, quase constitui uma excepção entre as outras ilhas. Segundo um “Roteiro do Espírito Santo”, elaborado pelo “Jornal do Pico”  no último ano (2012), realizam-se na ilha do Pico, ao longo do ano, desde o sábado do Espírito Santo até ao dia de são Mateus (21 de Setembro), 53 Impérios com a distribuição, a todas as pessoas que aparecem, de rosquilhas ou bolos de vésperas, conforme a tradição.

São, na realidade, as grandes festas da ilha, que se vêm mantendo com o mesmo entusiasmo, estes séculos todos em que a ilha está povoada.

A vila das Lajes celebra o seu império no dia de São Pedro. Reatou a tradição em 1940 e, felizmente, tem mantido. Antes realizava impérios no Domingo do Espírito Santo, segunda-feira do Espírito Santo (dos marítimos) e terça-feira (dos nobres).

No princípio do século XX houve um desentendimento entre os irmãos do Domingo e os da Ribeira do Meio, que a ele pertenciam,  foram realizar o Império para o Caminho Novo. Os das Lajes vieram para o largo do Meio da Vila, até que os Impérios aqui acabaram: o dos lavradores, no domingo, depois da separação dos irmãos, como ficou dito; o dos nobres porque estes foram desaparecendo; o dos marítimos porque os irmãos foram reduzindo e os que ficaram foram insuficientes para que o império se realizasse.

Mais tarde ainda se tentou, na vila, o Império da Trindade mas durou poucos anos. Veio em 1940, como atrás disse, o de S. Pedro e ficou, felizmente.

(1). História do Concelho das Lages, 1936, pág. 136.

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